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A ESTAÇÃO DA MORTE
A cigana adormecida nos cais,
a quarentena da parteira
e o relógio da fruta tudo passa.
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Os vagões do feno e a ventura,
entre os tristes seres que viajam,
adormeciam, crianças, a estacão
aureolada de neblina. O fumo
do alecrim alcoólico e a hulha,
misturavam-se na ribeira, azul,
com os fetos da despedida.
Oh que arrepio! A vida, passagem escura,
avanço e retrocesso de sentimentos.
A infância, aquela que não volta, o sopro
da existência passageira e melancólica!
Um lenço de erva, entre a turbamulta
dos agonizantes, agitava
o sinal do encontro. Tinha nascido.
Que alegria! A erva de uma saudação
estremecia a sua condenada mão. |
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MADRIGAL DA ERVA
Oh, efémera, efémera
Como pudeste assim aprisionar a minha sorte.
Lagarto vegetal, galanteando
com os desígnios da vida. Elástica
panóplia de formosura. Verdejante,
em frescas espadas, contra o tempo obscuro
e a voracidade celeste. Corça e menta
dos ternos suspiros. Oh traidora,
como pudeste assim aprisionar meus lábios,
quando cantava descuidado a água
e o gengibre sonoro dos lírios
embelezados pela húmida infância.
Oh, efémera, efémera
aninhada no frémito do rio,
viajando com as aves de outro Junho,
arroupando o verdor da existência |
como se o teu discurso de suaves folhas
pudesse devolver-me a minha infância,
os meus sentimentos puros, as minhas canções
de menino morto entre a folhagem viva. |
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ORIGEM DO AMÓNIO
Se eu pudesse ser como a pedra,
amotinada contra o tempo, em dura
obstinação lenta e perpétua, teimosa.
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Se pudesse durar! Mas sou só erva
e a minha humidade, a minha ternura vivem,
sobre o lábio, um único e resplandecente instante.
Como encontro de órbitas celestes,
quando na origem dos amónios
e dos duros silícios, lá no alto,
pauto a minha leveza pelos relógios
dos breves suspiros vegetais.
Que compaixão inspiro aos planetas
e aos rudes metais dos galináceos!
Como se fosse um coração, morro
só de pensar na minha morte. Quão poucas horas
para falar de amor me deu o céu.
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